Setembro Amarelo: sinal vermelho para a hiperconectividadeO excesso nas redes pode levar à exaustão, por isso a importância da desconexão e da desintoxicação digital. |
Falar sobre Trabalho x Saúde Mental é mais do que necessário, é indispensável, sobretudo no Setembro Amarelo. De acordo com um estudo pela International Stress Management Association (ISMA), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking global em diagnósticos de Burnout.
O médico do trabalho e autor do livro “O que ninguém te contou sobre Burnout” (Editora Mizuno), Marcos Mendanha, destaca que apesar do debate sobre o assunto, é importante ressaltar que ter uma boa relação com o trabalho pode ser inclusive uma prevenção ao suicídio.
“Embora não seja uma doença mental, o burnout se assemelha a um quadro de fadiga e se caracteriza por exaustão ou esgotamento, distanciamento mental do trabalho e das pessoas do trabalho - uma espécie de “frieza”, e sensação de ineficácia. Se não for bem tratado, o burnout pode dar lugar a um adoecimento mental verdadeiro, por exemplo: depressão, transtorno de pânico, entre outros”, explica.
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em junho de 2022, quase 1 bilhão de pessoas no mundo convivem com algum tipo de transtorno mental desde 2019. A síndrome de burnout, que só no ano passado foi classificada como doença ocupacional pela OMS, responde pelo afastamento de 30% dos empregados.
Já uma pesquisa recente do Workforce Institute do Reino Unido revelou que líderes e gestores têm um impacto significativo na saúde mental de seus funcionários. O estudo, que envolveu 3.400 pessoas em 10 países, investigou o papel desses cargos na promoção da saúde mental dentro e fora do ambiente de trabalho.
Nos Estados Unidos, foram entrevistados 600 funcionários. Os demais países foram representados por 200 funcionários cada: Austrália/Nova Zelândia, Canadá, França, Alemanha, Índia, México, Holanda e Reino Unido.
O estudo revela que os trabalhadores estão esgotados, estressados e sobrecarregados. Um em cada cinco (20%) revela que o trabalho afeta sua saúde mental negativamente. As mulheres são as mais afetadas (23% contra 16% dos homens).
Ao final do dia, 43% dos funcionários estão exaustos e 78% afirmam ter o desempenho afetado pelo estresse. 71% dos funcionários dizem que o trabalho afeta negativamente a vida doméstica, 64% o bem-estar e 62% os relacionamentos.
Hiperconectividade e exaustão
Uma pesquisa do Instituto Gartner estima que a quantidade de informações a que temos acesso hoje supere a casa dos 40 trilhões de gigabytes de dados no mundo, o que corresponde a 4 quintilhões de páginas de A4 de conteúdo criados e disponibilizados diariamente.
Segundo levantamento da NordVPN, empresa de segurança online, os brasileiros passam cerca de 91 horas online por semana. De acordo com o estudo, a maioria do tempo no digital são gastos com as redes sociais e as plataformas de streamings de vídeo, filmes e séries. Acordamos e dormimos conectados.
A hipervigilância criada pelo aplicativo WhatsApp, a necessidade corriqueira de checar mensagens a cada 5 minutos, tem resultado em sérios problemas de saúde mental, e sintomas que vão desde a alteração no sono, a problemas posturais, oftalmológicos, transtornos de ansiedade e síndrome do pânico.
Isso ocorre graças a cultura do imediatismo e o “mito da disponibilidade”. A facilidade do acesso à ferramenta promove a falsa sensação de que tudo é urgente e de que todos estão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana.
No artigo “Assédio moral virtual, direito à desconexão e saúde mental do trabalhador: uma análise à luz da convenção 190 da OIT”, a Procuradora do Trabalho, mestra em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Claiz Maria Pereira Gunça dos Santos, afirma que “com o desenvolvimento tecnológico, aumento da intensidade e sobrecarga de trabalho, em especial num contexto de hiperconexão e telepressão, verifica - se o aparecimento de doenças osteomusculares, cardíacas, neurológicas, estomacais, reumáticas e mentais nos trabalhadores”.
Em seu artigo, a Procuradora também lembra que “a exigência de conexão permanente e respostas imediatas (telepressão), também ocasiona assédio moral virtual, haja vista a sujeição do trabalhador a uma constante pressão para realizar as atividades, independentemente do lugar, dia ou horário”.
“O assédio moral organizacional virtual compromete a saúde, o descanso, o lazer e o convívio familiar do trabalhador, violando sua dignidade e seu direito fundamental à desconexão”.
Ascom/ ASMP